Open Banking – Inovação aberta aplicada a negócios

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O Banco Central divulgou um comunicado no último dia 15 de outubro que interessa a todos os bancos brasileiros e seus usuários e aos milhares de empreendedores que buscam um espaço no Sistema Financeiro Nacional: a regulamentação do open banking. Resumidamente, esse novo modelo pode ser explicado como a transferência da posse dos dados bancários para os clientes e mecanismos que permitam que serviços bancários sejam isoladamente negociados.

Os dados das operações e movimentações dos clientes estão nas mãos das instituições financeiras. Na prática, até 2019 o BC quer instituir uma série de regras a serem seguidas pelo mercado a partir da adoção dessa nova lógica e os bancos serão obrigados a compartilhar informações, deixando de ser como caixas-pretas dos dados de seus clientes.

O open banking significa que os titulares das contas correntes poderão escolher com quem desejam compartilhar suas informações, que podem incluir dados pessoais, de cartão de crédito, saldo da conta corrente e investimentos. Isso era impensável até pouco tempo, pois o modelo de negócio dos bancos foi construído com o raciocínio de proteger os dados dos clientes e utilizá-los apenas em benefício próprio. Agora, as instituições financeiras tradicionais precisarão se adaptar a um novo momento, de abertura e de inovação.

Aproveitando-se da nova dinâmica, startups, fintechs e empresas de tecnologia se utilizarão das APIs (Application Programming Interface, ou Interfaces Programáveis de Aplicativos) para criar uma imensa variedade de serviços financeiros que não estão hoje na cartela de produtos dos bancos. As APIs são sistemas de acesso digital que permitem que softwares e serviços possam ser integrados. Um aplicativo que você usa rotineiramente no seu celular, por exemplo, é feito de várias APIs. Sabe o Uber? Ele utiliza uma API de mapas para oferecer o serviço de geolocalização ao motorista. Dessa forma, não precisou desenvolver ele mesmo essa funcionalidade. No caso do open banking, a API será uma ferramenta para utilizar de maneiras criativas os dados que deixam de ser controlados pelos bancos. Com ela, será possível unir as plataformas bancárias e das startups, agregando valor à instituição através da criação de novas experiências de usuário e da inovação das operações financeiras. Para os grandes bancos, será uma oportunidade de ampliar as possibilidades de receita sem realizar investimentos altos para criar produtos e serviços especializados.

Apesar do anúncio recente sobre a esperada regulamentação, a atividade de open banking já não é novidade no Brasil. Ela será obrigatória, mas já era executada de maneira voluntária por algumas instituições. O Banco Original, por exemplo, decidiu em 2016 compartilhar seus dados com o Instagram, rede social vinculada ao Facebook, permitindo que o saldo da conta pudesse ser consultado na ferramenta Stories. O sistema também analisa as informações da conta, exibindo ao cliente seus gastos com alimentação, por exemplo. No ano seguinte, o Banco do Brasil abriu uma porta para integrar-se ao Conta Azul, sistema de gestão online de finanças para pequenas empresas, dessa forma disponibilizando um serviço de inteligência financeira aos seus clientes que antes não existia no seu catálogo de produtos.

Regulamentação

O próprio conceito de open banking e a definição a ser adotada pelo mercado brasileiro ainda estão em debate. Caso a instituição decida seguir o exemplo da lei europeia (a diretiva PSD2 ou Nova Diretiva de Serviços de Pagamento), todos os bancos serão obrigados a realizar o open banking, ou seja, todos os clientes serão donos de suas próprias informações financeiras. A PSD2 também determina a portabilidade de conta de maneira veloz. Isso significa que se o cliente decidir trocar de banco, a instituição deverá cumprir esse desejo e transferir todos os dados da forma mais simples possível, sem burocracias morosas. Além disso, na Europa, os bancos são responsabilizados em caso de vazamento de dados dos clientes – mesmo se a falha for causada por uma empresa terceira. Estas estão entre as principais preocupações dos bancos com a iminente vinda da regulamentação no Brasil.

Em princípio, parece excessiva essa responsabilização. Afinal, acreditamos que existem soluções tecnológicas que permitem acompanhar os dados e constatar qual das partes descumpriu as práticas de segurança. Uma solução para esse problema é a aplicação da chamada Regulatory Sandbox. Trata-se de um espaço reservado pelas autoridades reguladoras dos EUA e da Europa no qual empresas podem testar novos produtos, serviços e modelos de negócios inovadores, quando elas ainda não têm certeza de sua eficácia. Nesse ambiente, não correm o risco de receberem as punições legais que normalmente se aplicariam a esse tipo de atividade em caso de falhas. É uma forma de incentivar a inovação tecnológica e garantir melhores produtos e serviços aos consumidores. No Brasil, apesar da discussão estar apenas começando, a Sandbox poderá auxiliar o Banco Central na atribuição de responsabilidade no open banking.

Com esse conjunto de fatores, as empresas brasileiras serão obrigadas a se renovar, a inovar e a melhorar seus produtos se quiserem manter seus clientes. Esse processo incluirá a criação de serviços especializados que sirvam às necessidades dos clientes, a redução de taxas de juros e a proteção de dados. Com milhares de fornecedores de serviços financeiros e bancários, o cliente não pensará duas vezes em trocar de instituição caso o serviço contratado não estiver trabalhando ao seu favor.

As fintechs – empresas que prestam serviços bancários e financeiros, mas que não são necessariamente bancos – são as principais concorrentes dos gigantes na criação desses novos produtos e serviços. Como explica o CEO da MoneyEx e do GR1D, Guga Stocco, em suas palestras, é uma luta entre um gorila (o banco consolidado) e milhares de abelhas (fintechs que estão começando a ocupar seu espaço no mercado), na qual o primata com certeza perderá. Para que isso não ocorra, as grandes instituições financeiras precisam realizar a transformação digital e se adaptar à lógica do open banking, aliando-se às fintechs e startups para fornecer serviços especializados. Dessa forma, terão a vantagem competitiva necessária para encarar os novos modelos de negócio e serviços.

A lógica dos bancos até então era pensar e criar produtos com o objetivo direto de vender e gerar receita. Enquanto isso, a necessidade do cliente ficava em último lugar na lista de prioridades. Mas a regulamentação pretende acompanhar os novos mecanismos do mercado e conduzir as empresas a colocarem seus clientes como seus principais ativos. Assim, a expectativa com as novas regras é que o sistema bancário brasileiro melhore como um todo e passe definitivamente a viver de acordo com as tecnologias do século 21.

Open innovation

O open banking, no entanto, trata do conceito de open innovation, ou inovação aberta, aplicado apenas ao segmento bancário. Para além disso, empresas de todos os setores estão adotando essa mentalidade que guiará todos os modelos de negócio num futuro próximo. A lógica consiste em abrir dados e informações – assim como os bancos passarão a abrir ao mercado – para fomentar a criação de novos negócios e criar a chamada economia de plataforma. Nela, a empresa atua como intermediadora entre serviços de diferentes segmentos e clientes e usuários. Para ilustrar, o iFood é uma economia de plataforma, realizando a ponte entre motoboys e restaurantes para atender a pedidos de delivery. Trata-se de uma etapa para a evolução de uma empresa para se tornar um ecossistema de inovação, onde diversas outras empresas e empreendedores criam negócios e serviços disruptivos, movimentando toda uma economia em volta de maneira exponencial. Alguns ecossistemas já presentes no mercado internacional são o Google, a Amazon e a Apple, que figuram entre as maiores empresas de tecnologia do mundo.

A inovação aberta requer que as empresas realizem dois movimentos iniciais. O primeiro, de olhar para dentro de casa e perceber o que ela tem de valor e o que pode ser disponibilizado ao mercado. Isso pode incluir desde uma ferramenta interna utilizada apenas pelo time, como um sistema de avaliação de crédito, até um serviço exclusivo para clientes, por exemplo, uma carteira de investimentos do banco. Dessa forma, uma API pode ser construída para, depois, ser liberada a outras empresas. A dona daquela funcionalidade pode escolher monetizar seu uso para gerar uma fonte de receita. O segundo movimento se trata de olhar para fora de casa, observando ferramentas disponíveis no mercado, não necessariamente do mesmo segmento, e que podem agregar valor à empresa. Isso pode variar desde uma API que será utilizada internamente até a criação de novos produtos e serviços.

Um bom exemplo de inovação aberta é o caso do Netflix. Para que seu serviço de streaming de filmes estivesse em todas os sistemas operacionais de computadores, tablets e celulares, disponibilizou suas APIs ao público. Simpatizantes da plataforma e desenvolvedores de empresas de telefonia construíram os programas que permitiriam que o Netflix pudesse ser acessado de qualquer dispositivo. Se a companhia não tivesse feito isso, teria gasto muito mais tempo e dinheiro para desenvolver ela mesma e provavelmente não teria sobrevivido à competição com a Blockbuster, que na época liderava o mercado de locação de filmes.

A economia de plataforma e o ecossistema de inovação só são possíveis devido ao avanço tecnológico, mas essa não a única condição. Para adentrar nessa nova era, as empresas precisam ter, acima de tudo, criatividade para inventar produtos e serviços centrados nas necessidades dos usuários. Assim como no open banking, as APIs serão ferramentas poderosas durante essa construção. Mais uma vez trazendo o exemplo, o Uber não criou nada novo tecnologicamente, mas juntou as peças certas e acabou por revolucionar a maneira de se chamar um táxi. Quem hoje tem a paciência de esperar mais de 5 minutos por um carro?

E dentro de toda essa cadeia de negócios da economia de plataforma e dos ecossistemas, as transferências de dados serão ainda maiores e se tornarão ativos valiosos para qualquer negócio. Um exemplo? Imagine que um cliente acessou um aplicativo para fazer a simulação de financiamento para comprar um carro. Depois de fazer o teste, ele comprou o automóvel, mas ainda não fechou o seguro devido ao custo elevado. A seguradora sabendo os horários em que ele se locomove pela cidade para chegar ao trabalho, almoçar e voltar para casa no fim do dia, pode oferecer um seguro sob medida, através do qual o cliente está segurado apenas quando está dirigindo nesses horários.

E o GR1D com isso?

O GR1D é um viabilizador de inovação aberta e, por efeito, de open banking. A plataforma reúne diversas APIs de todos os segmentos para que negócios e serviços inovadores possam ser construídos. Para ajudar nessa trajetória, disponibilizamos nossa metodologia Shake Up, que combina outras como Agile e Design Thinking, para estimular empresas a pensarem nas necessidades do usuário e criar estratégias para seus modelos de negócios. Também reunimos as últimas informações e notícias sobre os avanços do mercado em cada segmento, mostrando quais são as últimas tendências e o caminho que a inovação está seguindo.

Hoje, estar na vanguarda é uma obrigação. Para participar dessa nova era de negócios, é preciso realizar a transformação digital e estar disposto a inovar e participar desse novo conceito de colaboração. E não achar que o jogo já está vencido. 

*Leo Monte, Thiago Saldanha e Flávio Maldonado

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